Brasileiros desenvolvem tratamento inovador contra câncer de cérebro
Técnica pesquisada pela Universidade Federal Fluminense já desperta o interesse de outros países. O tratamento não tem efeitos colaterais e possui resultados surpreendentes.
Uma pesquisa da Universidade Federal Fluminense desenvolveu uma técnica inovadora para o combate do câncer cerebral e já começa a chamar a atenção de outros países. O tratamento tem como base a inalação da substância natural álcool perílico, que pode ser encontrada em algumas plantas, em pacientes com tumor cerebral.
Mesmo que ainda em fase de testes, já é possível constatar que o tratamento não tem efeitos colaterais e possui resultados surpreendentes. Aristides Ferreira Mulin foi um dos pacientes que experimentou a nova técnica. Em janeiro, ele tinha um tumor de nove centímetros que hoje está com um. Além disso, ele conta outros benefícios: “Meu organismo está bem mais resistente. Estou me sentido melhor, em todos os sentidos”.
Responsável pela pesquisa, o neurocirurgião Clovis Orlando da Fonseca conta que, como sempre se interessado pela área, tentou descobrir uma forma de evitar a volta do tumor nos pacientes e conseguiu chegar à ideia de usar o álcool perílico. “Nós começamos a estudar pesquisas básicas para tentar desenvolver uma estratégia terapêutica nova”, explica ele.
Ele se uniu a professora do Instituto de Biologia da UFF que sugeriu usar o álcool perílico por meio da inalação, como forma de evitar efeitos colaterais e ser um tratamento menos invasivo. “Essa era a única forma de colocar essa medicação no sistema nervoso central sem ser por um modo invasivo”, destaca ela. No entanto, os pesquisadores ressaltam que a quimioterapia ainda é necessária.
A técnica impressionou o médico americano Thomas Chen. “Fiquei muito interessado no potencial de expandir os resultados para o mundo”, afirma ele. A pesquisa brasileira, inclusive, já fechou uma parceria com uma Universidade do sul da Califórnia na tentativa de juntar na bombinha da inalação o álcool perílico e os medicamentos da quimioterapia.
Inalação contra o câncer
Foi publicado na última edição do Jornal Brasileiro de Pneumologia, o artigo Efeito do álcool perílico na expressão gênica de células de adenocarcinoma de pulmão humano. O artigo, parte da dissertação de mestrado da engenheira química Juliana de S. da G. Fischer, defendida em agosto de 2005, pela Faculdade de Medicina do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e desenvolvido no Laboratório de Controle Expressão Gênica, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, aborda a ação desse monoterpeno isolado dos óleos essenciais de substâncias naturais como menta, hortelã, cereja e sementes de aipo, em células de adenocarcinoma de pulmão humano. O efeito anti-tumoral do álcool perílico já foi comprovado em ensaios clínicos com ratos, e já esta em fase de trial clínico em humanos, estabilizando ou reduzindo o desenvolvimento de diferentes tipos de tumores como pâncreas, mama, fígado, dentre outros . No entanto, o mecanismo de ação ao nível molecular já era conhecido para a RAS, uma proteína que quando mutada leva ao câncer. Porém, em sua dissertação de mestrado, Juliana descobriu que o álcool perílico impede também a fosforilaçao de outra proteína ligada a cascata de transdução de sinal através de membrana, chamada ERK . Além disso, ao induzir um choque térmico nos experimentos in vitro , Juliana conseguiu aumentar muito a eficácia da droga, abrindo caminho para uma possível nova forma de tratamento.
O próximo passo é administrar o álcool perílico via aérea, ou seja, inalação. Desta forma, ela espera que os efeitos colaterais sejam reduzidos, assim como o desconforto do paciente. Este método já está sendo utilizado com sucesso pelo Dr. Clóvis Orlando da Fonseca, doutorando da Faculdade de Medicina da UFRJ, em pacientes com glioblastoma, um tipo de tumor cerebral. A inalação, como alternativa aos comprimidos, é muito positiva. No caso do câncer de pulmão, espera-se que o resultado seja ainda melhor. No entanto, o tratamento do adenocarcinoma via inalação ainda precisa ser autorizado por um conselho de ética para que, então, possa ser aplicado.